10.12.14

Fracasso no treino de cães

Enquanto, durante os trabalhos finais do semestre, eu planejava posts para voltar ao blog, tropecei nessa imagem no blog da Andreja (que vale várias visitas).

Volto para os trabalhos e para o planejamento, mas deixo a imagem.

Que seja de valia.




O treinamento muitas vezes falha porque as pessoas esperam muito dos cães e muito pouco de si próprias.
Bob Bailey

13.8.14

Drive e velocidade - pensamentos livres

Nos últimos tempos, eu tenho pensado muito sobre motivação, drive e o que produz uma performance de ponta. As dificuldades que eu tive com a Dory, os desafios de treinar com a Wish e os desafios que amigos passam e dividem comigo são o combustível dessa minha onda introspectiva de raciocínios.

Como praticantes de agility, estamos sempre correndo atrás do tão aclamado drive. Escolhemos os filhotes mais "drivosos", tentamos excitar, motivar, nos fazemos de verdadeiros palhaços para empolgar os cães porque acreditamos que isso produzirá um melhor resultado em pista.

Mas será? 

Isto não é uma pergunta retórica, mas sim, a pergunta que eu tenho me feito nos últimos tempos.

Eu queria uma Dory mais ou
menos
assim (e eu consegui)

Quando eu comecei a treinar a Dory, o meu grande objetivo era deixá-la extremamente motivada para o Agility. Me livrei de toda a minha vergonha e me tornei uma verdadeira louca para mantê-la entusiasmada com os treinos. É difícil lembrar uma época do passado com detalhes sem ser traído por nossas percepções, mas vou assumir que era isso que ela precisava naquele momento. No entanto, analisando hoje, acredito que meu maior erro tenha sido não perceber a hora de parar.



Os problemas surgiram quando fui retreinar a zona de contato da passarela e o slalom. Os treinos mais básicos sempre iam super bem, até o momento de adicionar mais velocidade ou condução. Minha cachorra ficava tão enlouquecida assim que percebia que sua 'mamãe-palhaça' estava para fazer uma aparição que se perdia em um surto completo de histeria.

De tão empenhada que eu estava em produzir um cão super hiper mega motivado, eu me esqueci de capacitar meu cão a pensar e resolver problemas enquanto estava super hiper mega motivado. 

Ou talvez, no desejo de ter um cão super motivado, eu tenha produzido um cão super excitado e confundido as duas coisas como se fossem uma só.

De qualquer forma, OPS!

Mais recentemente, ao treinar a Wish, me deparei com um problema diferente mas que me levou algum tempo para perceber que era exatamente igual. Os saltos dela finalmente estão na altura standard depois de um longo processo de treino muito gradativo. E eis que, mesmo depois de um processo tão slow motion, a cachorra começou a saltar das maneiras mais bizarras possíveis quando fazíamos uma pista. 

- p*rra -

Wish fazendo overjumping. Cabeça alta, cauda elevada
e um salto 30 cm mais alto do que o necessário.
Urgh.

Apesar de estar saltando super bem em situações controladas, a Wish ainda não estava - nem está - pronta para lidar com tudo isso em uma situação de euforia de uma pista. E quem é sempre a responsável por essa histeria epidêmica? A 'mamãe-palhaça', a mesma vilã do episódio anterior. Não é preciso dizer que a performance da canina melhorou instantaneamente assim que a ordinária condutora saiu de cena.


E essa foi a história de como eu, correndo atrás dos milésimos no cronômetro, me esqueci - duas vezes - de uma das lições mais básicas não só no treinamento de animais, como também no treino de alta performance. 

Para competirmos em alto nível nós precisamos de velocidade, mas também precisamos de precisão. É somente a junção das duas que irá criar a performance de ponta. 

Esses dois aspectos não devem ser treinados ao mesmo tempo. Um deve sempre vir antes do outro.



E eu vou falar mais disso, só que só no próximo post.
Porque eu sou dessas.


27.3.14

Premack em ação #1

No último post nos falamos um pouco sobre o princípio de Premack, uma ferramenta que pode nos ajudar a transformar vários elementos da vida de nossos cães em reforços para o treinamento. Vocês devem ter notado que o princípio de Premack funciona de forma muito parecida com o reforço positivo. O animal faz alguma coisa que gostamos e algo que ele gosta acontece (petiscos, oportunidade de nadar, etc.).

Na verdade, na verdade, existe toda uma discussão chata na comunidade científica sobre os limites desse princípio e como devemos usar apenas o reforço positivo para fazer nossas análises. Para os nossos intuitos é só um monte de blablablá. No entanto, eu vejo uma grande vantagem e uma mudança de olhar muito grande quando as pessoas discutem nos termos do princípio de Premack.

Ele nos convida a prestar atenção em nossos cães e no que eles já fazem.

O seu cão gosta de jogar bolinha? Nadar? Perseguir esquilos? Latir para os gatos em cima do muro? Cheirar os gramados durante o passeio? Então vamos usar todas essas coisas para treiná-lo!




Mas, como aplicar Premack na prática?

Quando vamos treinar nossos cães com petiscos o princípio é que nossos cães só irão ganhar quando tiverem um acerto. Não há acesso aos petiscos enquanto o cão não acerta. E esse é o grande problema das distrações nos treinos, geralmente, nós não conseguimos controlar o acesso que os cães tem a elas.

Esse é o primeiro passo (o mais difícil e o mais importante) para o treino sem o uso de corretivos: controlar os reforçadores que os cães obtêm.

ESQUILO!

O grande erro na hora de iniciar um treino com distrações é, justamente, não ter o controle sobre como o cão poderá interagir com elas. A questão não é proibir que o cão faça as atividades mas, sim, faça de forma controlada e prestando atenção em seu dono.

Se você tem o controle sobre a distração, pode começar a treinar o comportamento de forma progressiva. Sempre começando com um exercício bem simples e evoluindo progressivamente.


Premack em ação

Quando eu comecei a treinar agility no Dog World I, eu sempre soltava o Pypo assim que chegava para que ele pudesse cheirar e fazer suas necessidades. Acontece que o Pypo nunca foi o cão mais atencioso e focado do mundo, rs. E, no final das contas, eu precisava enganá-lo com um petisco para conseguir que ele voltasse. 

Não demorou muito para ele aprender que ver o petisco significava ir para a caixa de transporte e perder a oportunidade de continuar cheirando. Sim, ele parou de vir mesmo se eu ficasse exibindo o petisco na fuça dele.

- Inspira -

- Expira -

Fonte
Foi aí que eu resolvi começar a treinar usando o 'cheirar o chão e passear' como reforço. Eu já tinha lido várias vezes sobre o assunto mas nunca tinha colocado em prática. Só que eu já não tinha mais muitas outras alternativas, rs.

O Pypo já tinha aprendido que não poderia me ouvir e obedecer senão coisas ruins aconteceriam (tipo ficar preso na caixa do tédio). Como mudar isso?

A primeira coisa que fiz foi mudar a maneira como eu entrava na escola porque eu ainda tinha controle nessa situação. Assim que chegávamos no portão, eu passei a pedir para o Pypo sentar e olhar para mim. Assim que ele o fazia, eu abria o portão. Se ele saísse do senta, eu fechava o portão. Ele deveria permanecer sentado e olhando para mim até que eu liberasse com "ok, vai passear".

Como ele tinha medo de ser chamado para a caixa, eu comecei esse treino bem longe da barraca onde ficam as caixas de transporte. Ele não viria se eu chamasse, mesmo estando longe da barraca, então eu passei a jogar pedaços de salsicha na direção dele sempre que ele olhava para mim ou vinha na minha direção. Assim que ele comia, eu dava o comando para ele ir passear de novo.

Logo, ele passou a buscar mais e mais a minha atenção. E só aí eu passei a chamá-lo. Quando eu voltei a chamá-lo, ele passou a me evitar mais do que quando eu simplesmente esperava ele vir sem chamar. Na época, eu achei isso super irritante, ficava brava com essa "teimosia" dele. Mas com tudo que eu já falei, dá para entender porque ele relacionou o comando com algo que ele deveria evitar, não é? Eu demorei um tempo para me tocar disso.

Passeiozinho no mato. Dory solta e Pypo na guia.


Nesse momento do treino, toda vez que ele vinha até mim quando chamado, eu recompensava com o petisco e dava o comando "passear" para que ele continuasse cheirando por aí. Ele ainda tinha bastante receio que eu o prendesse então ele ia embora feliz da vida.

E assim a coisa seguiu. Até o dia de hoje, em que eu posso chamá-lo, pedir alguns comandos e liberá-lo para cheirar. O mais lindo é que hoje ele sempre cheira prestando atenção em mim esperando uma oportunidade para brincar esse nosso jogo. 

Hoje, eu sei que eu poderia ter acelerado nosso processo deixando que o Pypo cheirasse em um ambiente menor e que ficasse entediante mais rápido. Ficaria mais fácil de controlar a situação e ensiná-lo a prestar atenção em mim. Mas báh, vivendo e aprendendo :)

27.2.14

O princípio de Premack - se a vida te dá limões, faça caipirinha!

O treino com reforçamento positivo tem ganhado cada vez mais força no cenário mundial. A fama dos esportes e dos truques caninos tem muito a ver com esse crescimento já que o uso de reforço positivo é muito intuitivo na hora de treinar esse tipo de exercício. No entanto, ainda existem muitas críticas em relação a abordagem quando se discute problemas de comportamento. 

Essas críticas são naturais pois pensar o reforço positivo nesse tipo de situação parece contraintuitivo, não é? Para reforçar eu preciso de um comportamento que eu considere desejável e queira ver repetido no futuro, mas um problema de comportamento é justamente o oposto disso!

No post de hoje, nós vamos falar sobre um problema de comportamento bastante comum mas relativamente simples de resolver: o do cão que nos abandona por distrações.

Treinar um cão com sucesso em casa mas não conseguir o mesmo nível de proficiência em locais públicos pode ser bastante frustrante, especialmente para os times engajados em esportes. Ensinar um cão a se concentrar em meio as distrações envolve muitos aspectos, entre eles, socialização, treino de generalização e um relacionamento próximo com o cachorro. Ele pode se distrair porque está desconfortável, com medo ou porque não entendeu o que você espera dele.

Olha que água INCRÍVEL, cara!!
Ou ele simplesmente está muito mais interessado nas diversões do mundo externo do que em você.

Infelizmente, é difícil ser mais interessante do que todos os outros cães, cheiros, esquilos, lagos ou ovelhas desse mundo. Então como ensinar nosso cão a continuar prestando atenção em nós nessas situações?

É aí que entra o princípio de Premack, ou como eu gosto de chamá-lo, se a vida te dá limões, faça uma caipirinha!

O princípio de Premack coloca que um comportamento que acontece com alta frequência em uma dada situação, pode ser usado como reforçador para um comportamento de baixa frequência. Ou seja, podemos usar o atividade de cheirar outros cães como reforçador para, por exemplo, prestar atenção em nós. Por estar seguido de uma atividade reforçadora, o prestar atenção aumenta de frequência. Logo, estamos ensinando nossos cães a prestar mais atenção em nós na presença de outros cães. Lindo, não?

É bem parecido com o que conversamos sobre reforço positivo, não é? 

O princípio de Premack nos ajuda a lembrar que não precisamos ficar presos aos petiscos e brinquedos quando vamos treinar nossos cães. Petiscos e brinquedos são ótimos e práticos para o treino, mas por que nos limitarmos a eles se podemos usar também todas as outras atividades que nossos cães naturalmente adoram fazer?

E a melhor parte, é que essas atividades menos reforçadoras começam a se tornar mais divertidas para o cão. Mas nos alongaremos mais sobre isso em um próximo post.

Deixo para vocês um vídeo que já postei aqui no blog, mas que ilustra perfeitamente o uso desse princípio.




Se a vida te dá distrações, faça um lindo treino baseado em Premack! :)

Bom carnaval a todos!!