23.12.12

Um feliz natal a todos! - vídeo

Não pudemos estar tão próximos do blog nesse início de férias, mas um dos culpados por isso é o projeto que deixamos para vocês abaixo.

Espero que gostem!

Boas festas a todos! Nos vemos em 2013!

 

25.11.12

Você sabe ler emoções caninas? 2 - a resposta!

Muitos e muitos meses atrás, eu publiquei uma foto perguntando que emoções vocês viam a Dory apresentar. Meses se passaram e eu não dei a resposta, hehe. Eu tinha praticamente desistido de dar a resposta por causa do atraso, mas esses dias encontrei algumas fotos bem interessantes pra discutirmos! Então, vamos lá :).

Aqui vai a resposta, antes tarde do que nunca!



Essa foto é interessante porque a Dory está dando todos os sinais para indicar que está desconfortável com essa situação. A situação no caso era que o Samy estava pedindo para ela fazer o fica, exercício que ela, na época, odiava fazer por questões de insegurança e incerteza. 


A cabeça dela sozinha já deixa bem claro o que ela sente nesse momento. Os olhos podem estar fechados por causa da luz (ela é meio fotofóbica, rs) mas eu acredito que sejam um calming signal. Além disso, as orelhas estão para trás, ela coloca a língua para fora e é possível ver uma ruga de tensão na bochecha. Todos esses são sinais de desconforto e insegurança e além de representar as emoções, muitas vezes funcionam como sinais para que o ser intimidador retire um pouco da pressão sobre o intimidado. Ou seja, são os próprios calming signals.

Fora isso, o corpo está levemente abaixado, a coluna está abaulada e o peito dela está ligeiramente na frente. Tudo isso na tentativa de abaixar o corpo. Vocês já viram como os cães abaixam a cabeça e a parte frontal do corpo quando levam um bronca ou quando se aproximam de outro cão intimidador? É um comportamento comum em filhotes pedindo comida aos cães mais velhos também.

É mais ou menos esse comportamento que a Dory está reproduzir aqui (só que ela não pode sair da posição sentada - e eu acredito que isso só aumente ainda mais sua ansiedade em relação ao exercício).  



Só para avisar, hoje a Dory faz o "fica" com muito mais tranquilidade. Mas eu ainda não consegui passar essa tranquilidade para as pistas de agility, por isso que nós ainda saímos correndo igual duas desembestadas, hehehe.


Para ver a foto original, clique aqui.

29.10.12

Voltar ao treino de fundamentos?

Com o próximo campeonato Brasileiro a caminho, resolvi que estava na hora de voltar atrás e rever algumas conceitos fundamentais com a Dory.
As curvas da Dory podem ser muito curtas mas hoje em dia, por exemplo, elas só o são quando eu estou ali para ajudar e cobrar. Acredito que podemos fazer melhor que isso.
Enviei uma mensagem a uma treinadora de agility com uma dúvida, meu email terminava mais ou menos assim: "você acha que eu devo voltar atrás e treinar mais os fundamentos?"
Eis que ela responde, muito brevemente, mas com muita sabedoria:

"Treinar fundamentos nunca é voltar atrás."


As implicações dessa curta frase são tão grandes que eu tenho dificuldade de saber por onde começar. E conhecendo o trabalho da autora da frase, sei que ela acredita que toda boa performance no esporte é efeito de um eficiente e contínuo programa de fundamentos.

Ao invés de fazer um post longo sobre o que eu penso em relação a isso, acho que deixarei apenas a frase solta no ar. O que vocês pensam sobre isso? O que é e para que serve o treino de fundamentos?








Ah! Quem me disse isso foi a Silvia Trkman.

27.10.12

Dilemas éticos na criação de cães - parte 1

Pensar sobre criação de cães é uma das coisas que eu mais gosto de fazer. Isso porque conflitos éticos podem ser bastante interessantes de se refletir sobre (especialmente quando você não tem interesses envolvidos, isso ajuda, hehe).

A ideia hoje não é oferecer qualquer tipo de resolução, apenas food for thought. Coisas que eu penso e que eu queria que fossem mais pensadas.

O primeiro dilema ético não é o mais popular, mas é o mais básico. Geralmente ele é descartado rapidamente, mas quase sempre sem resposta. Eu me refiro a criação no seu aspecto mais objetivo, o de criar, o de produzir mais vidas caninas.

A quantidade de cães de rua no nosso país é bastante alarmante. Esses animais representam um problema social por diversos motivos, além de não possuírem as condições mínimas para bem-estar e conforto, são inimigos da saúde e segurança pública. 

E é nesse problema social que se encontra o primeiro dilema ético do criador de cães ou do simples dono que resolve produzir uma ninhada. Qual a justificativa para se produzir mais cães se o país não dá conta do número de cães que possui? E mais, ainda que o Brasil não tivesse problemas com a superpopulação dos animais de rua, quais as responsabilidades do criador para com os animais que produziu?

Na minha concepção, a reprodução de animais domésticos é sempre efeito da atitude (ou da falta de, em alguns casos) do proprietário desses animais. Desse modo, quando um ser humano decide produzir cães, ele é diretamente responsável por eles. Pela sua existência, pela sua sobrevivência e pelo seu bem-estar e conforto. Se esses animais serão felizes ou se sofrerão (ou se estarão em qualquer lugar desse espectro), essa possibilidade só existe porque alguém decidiu produzi-los. 

Isso considerando toda ideia de posse responsável. Se seu cão morde alguém, a responsabilidade é sua. Se ele produz descendentes, a responsabilidade também é sua.

Temos aí o segundo dilema ético da criação de cães: a produção responsável. Ao cogitar criar uma ninhada, o proprietário está disposto a se responsabilizar integralmente pelo futuro desses animais?

Nesse primeiro momento em que a criação aparentemente está contribuindo com o problema da superpopulação, que tipo de responsabilidade cabe ao criador? Qual o papel social do criador de animais? E mais, que tipos de medidas podem ser tomadas para a reversão desse conflito? Elas cabem ao criador (e ao simples proprietário)?



23.8.12

o Cão Preto já não é mais tão preto



Gostei muito dessa foto.

Mais cedo ou mais tarde as atividades do Cão Preto vão voltar, mas por enquanto, estamos curtindo ter horas para não fazer nada todos os dias. Isso vai acabar logo, então melhor aproveitar. Isso que dá morar com uma sheltie que dorme 26 horas por dia, contagia.

26.6.12

Mais um videozin

Uns truquinhos bobos para testar a câmera nova e as minha inexistentes habilidades de edição.



20.6.12

Truques inúteis? - Falta de criatividade

Continuação desse post.

Hehehe. Tava sem criatividade, dá para notar? Mas deu para treinar várias coisas importantes com esse truque bobo. Habilidades que podem ser muito úteis para o agility. Vocês conseguem ver quais? :) 


18.6.12

O perigo das correções


O post de hoje também foi produzido graças a uma dose de pressão e inspiração. Pelo jeito, vai ser assim até o fim do semestre. Ontem mais cedo, a Marjorie publicou um post sobre as dificuldades que está tendo com seu cao para treinar agility. Todo mundo no esporte ja viveu isso na pele. Eu, por exemplo, volto das seletivas para o Mundial precisando retreinar minha cã a fazer as zonas, o slalom e o fica. Só. Rsrs.

Mas o dilema da Marjorie tem a ver com problemas que eu vivi com meu outro cão preto, o Pypo. O dilema é: todos nós queremos treinar nossos cães apenas com reforços, brinquedos e pesticos. Mas como fazer isso? Como lidar com os "becos sem saída"?


Num post anterior, eu coloquei algumas das razões pelas quais devemos ter cuidado ao treinar nossos cães com correções físicas ou verbais. Os efeitos colaterais da coerção podem agir contra o próprio treino. Mas hoje, eu não vim discutir sobre os efeitos das correções nos nossos cães, mas sim, em nós. Isso mesmo. Quais são os efeitos que as correções tem em nós treinadores?

No post citado acima, eu disse que nunca devemos julgar um método por sua má aplicação. E, há de se admitir, existem milhares de cães pelo mundo afora que provam que é possível treinar bons cães de performance misturando metodologias, ou seja, usando reforços e correções simultaneamente. Assim como é possível treinar bons cães de performance apenas com punições. Então, por que eu bato tanto na tecla do "apenas" reforço?


Um dos principais motivos é: o efeito que a punição tem em nós.

Vários anos atrás, eu li um texto sobre esse mesmo assunto que começava assim:

"A violência começa quando o conhecimento acaba"

Quando vamos ensinar usando correções, nós estamos de frente, normalmente, a uma situação que pode conter esses três pontos-chave:


1. o cão fez algo que não queremos que ele repita
2. nós não sabemos como arrumar esse comportamento-problema de outro jeito
3. o item 1 e 2 causam grande frustração e outros sentimentos desagradáveis


O grande problema de treinar com correções é que, eventualmente, a maioria de nós não corrigirá os cães apenas para ensinar algo a eles, mas sim, toda vez que ficarmos frustrados com o treinamento ou com o dia-a-dia do cão. Muitas vezes fazemos isso apenas para descontar a raiva, outras vezes, por desolação por não saber outro meio de resolver o problema. E isso não é nada educacional.

Olhe para o dia-a-dia com seus cães. Quais comportamentos vocês constantemente punem que simplesmente não desaparece? No agility, os exemplos são infinitos. Cães que ouvem " ei, não!" ou "txi txi" e continuam andando e antecipando o primeiro salto. Donos que socam e chutam caixas, mas seus cães continuam latindo pra pista. Cães que puxam guia, pulam a zona, saem do slalom... Vocês entenderam. Vários desses cães são constantemente punidos e simplesmente não melhoram. As punições estão servindo para o dono acreditar que está fazendo o possível e para descontar as angústias, mas não está resolvendo o problema.



É bem verdade que punir exige bem menos planejamento do que treinar com reforço. Mas quando buscamos uma performance inigualável ou uma ótima relação com nossos cães, será que vale a pena a pressa?

Nos exemplos citados acima, existem vários motivos pelos quais a punição não está funcionando. Mas ao invés de buscarmos soluções, continuamos punindo e rotulando o cão de "teimoso", "folgado" ou "dominante". E esses rótulos apenas nos fazem acreditar que é mais difícil ainda arrumar esse problema.


"Existem tantos meios para ensinar algo a um cão, quanto existem treinadores para pensar esses meios" (Karen Pryor)

Desde que decidi parar de usar punições para treinar meu cães, encontrei várias pedras no caminho. Algumas vezes já "perdi a cabeça" e dei algumas broncas nos meus cães pretos. Isso faz parte, mas o bom é que esses acontecimentos são cada vez mais raros. Mas tomar essa decisão foi também escolher como eu me portaria em relação ao desenvolvimento dos meus cães. 

"O seu cão é um reflexo da sua habilidade como treinador de cães". Lembram-se desse post? Treinar apenas com reforços é mais do que apenas deixar seu cão feliz a todo momento.
Pensem a respeito.

No meio de qualquer dificuldade encontra-se a oportunidade 
Albert Einstein
 

4.6.12

Inspiração - Gabrielle Blackburn

Eu sei que ainda estou devendo diversos posts aqui no blog, eu não esqueci, mas a maioria dos posts que escrevo demoram semanas para ficarem prontos. Eu escrevo e rescrevo, pesquiso e "repesquiso" mas ultimamente estou sem tempo para poder concluir essa dinâmica. Hoje, o post foi mais fácil de ser produzido porque o seminário que participei no final de semana serviu de inspiração para concluí-lo rapidamente.


O seminário desse final de semana foi ministrado por Gabrielle Blackburn. A americana que se consagrou campeã de sua categoria no último campeonato nacional se destaca pelas técnicas e consistências de seus cães e foi isso que veio dividir no Brasil.


Eu, particularmente, fui surpreendida muito positivamente com o seminário. Gabrielle não ensinou técnicas novas ou desconhecidas, mas ouvir de alguém que já pôs a mão na massa com vários cães é muito diferente de ver vídeos ou ler textos na internet.


Várias dicas que ela me deu em relação aos problemas que estou tendo com meus dois cães pareceram sutis, mas só pareceram. Uma de suas lições mais importantes foi em relação a critério. Durante todo final de semana, Blackburn repetiu várias vezes sobre a importância de ser consistente nas consequências que provemos aos nossos cães, já que esse feedback é a única maneira que temos de nos comunicar com eles. Se as consequências sempre mudam, nossos cães não podem prever o que esperamos deles.


Para alguém que acabou de perder o mal conquistado "fica" de sua cachorra porque perdeu a consistência, essa mensagem tem um peso diferente. Ainda não peguei meus vídeos no Américas e Caribe mas fico devendo para vocês as imagens de exatamente quando o fica da Dory foi para o espaço. Minha ansiedade me roubou o fica da minha cachorra. Obviamente ele ainda não estava nada consistente e por isso, desapareceu como num piscar de olhos. Óh vida.


Mas é bom saber que podemos ensinar novos truques a duas cãs velhas. 


Além disso, Gabrielle pensa todo seu treinamento a partir do treino de fundamentos. Ou seja, todos os comportamentos complexos que os cães tem que executar em uma prova são quebrados em vários pedaços menores e treinados separadamente. Assim, o cão entende completamente aquilo que deve fazer e, caso algum problema apareça, não é preciso retreinar tudo, apenas aquele pedacinho que não está mais tão claro.


Gabrielle, pra mim, representa o sucesso das novas tendências de treinamento de  animais em todos os esportes e funções. Espero conseguir seguir essa tendência.

21.5.12

Mudanças pelo tempo - Pequinês

Estamos sem tempo algum aqui no Cão Preto, então ficarei devendo alguns posts para vocês! Enquanto isso, deixo fotos que ilustram e me poupam das palavras. Podem clicar para ampliá-las.


Antes:
1850 - quadro de Percival Leonard Rosseau
1899 - cães do canil Goodwood
 E um lindo vídeo.




E depois:

Palacegarden Malachy - Best in Show na Westminster 2012
Vídeo de Malachy

Palacegarden Bianca - cadela que não passou nos exames
de saúde para receber o Melhor da Raça no Crufts 2012

E para aqueles que gostam de palavras (e tragédias), podem conferir um post recente sobre o Pequinês no blog do Segredos do Pedigree: Pekes - is this really true?

15.5.12

Os perigos do invisível


Recentemente, eu comecei a me envolver mais ativamente em debates relacionados a cinofilia. Provavelmente por estar tanto tempo longe desses debates, eu fui pega de surpresa por como as coisas que eu disse foram recebidas com desconforto. A reação das pessoas me levou a pensar melhor o que na minha posição causou tanto desconforto; o bom dos debates é que te instigam a refletir. Será que eu estava enxergando além do que deveria ou será que não consegui me expressar bem?

A reflexão me permitiu ver algumas coisas mais claramente. Hoje, tentarei explicar melhor minha posição. Espero conseguir mostrar porque eu acredito que as coisas estão bem mais sérias do que parecem. A minha posição, no entanto, é bem simples e pode ser resumida em uma frase:


"As coisas que você não pode ver são mais importantes que as coisas que você pode ver"


Essa frase era a idéia central de Dan Belkin, criador de Salukis de caça, ao discutir sobre estrutura. Mas ela também pode ser aplicada a muitas áreas da cinofilia.


Belkin possuía um exemplo clássico, simples e muito interessante. Ele dizia: "o padrão do Saluki diz que o cão deve possuir 'olhos de escuros à cor de avelã, brilhantes, grandes e ovais, mas não proeminentes', mas não diz se o Saluki deve conseguir enxergar". Obviamente, Belkin não se referia a Salukis cegos. Os olhos são órgãos bastante complexos e o "espectro da visão" não se resume a enxergar ou não enxergar. Para cães que caçam a partir desse sentido isso é especialmente importante.

O criador exemplificava com o caso de uma fêmea que conseguia ver lebres que estavam a mais de 300 metros de distância. Todos seus outros Salukis nem se davam conta da presa. Como seria possível avaliar a capacidade funcional desses animais fora da situação de caça? E isso se estende para todas as características descritas nos padrões de raça.



Mas a estrutura não é a única área em que "as coisas que você não pode ver são mais importantes". Na verdade, quando li essa frase pela primeira vez, achei que Belkin estaria se referindo a genética
.


Não é difícil entender porque a genética depende imensamente de coisas que não podemos ver e porque essas coisas são tão importantes. A maior parte das características de nossos cães dependem de genes que não conseguimos isolar, ou ainda, mesmo que tenhamos isolado esse gene, podemos não compreender como ele interage com o resto do genoma.



Será que a cinofilia está pronta para permitir que a
ciência ajude a superar sua cegueira?
Mas não estamos completamente no escuro. Os conhecimentos disponíveis em genética nos permitem avaliar a criação de cães com muito mais cuidado para que, no fim, não acabemos dando um tiro no próprio pé.


Quando penso em criação de cães, temo que os criadores não estejam levando a sério aquilo que não podem ver. Hoje, somos capazes de ver as consequências das criações que cometeram o mesmo erro, mas muitas dessas criações estavam, de fato, desafiando a escuridão. Talvez ainda não possamos ver tudo claramente, mas podemos ser míopes mais preparados.




A ciência deveria ser recebida como uma ferramenta pelos criadores, um par de óculos que permitisse, progressivamente, descobrir o que é que estamos fazendo.

Em todas as esferas do desenvolvimento humano já houveram práticas que foram tão celebradas, que não pareciam poder ser superadas. A roda, a penicilina, a escravidão. Mas a verdade é que nosso constante desenvolvimento condena essas mesmas práticas à obsolescência. O progresso não promete apenas bons frutos, mas não podemos deixar de caminhar em frente. O futuro trará coisas muito importantes, mas que ainda não somos capazes de ver.
 





"Não considere nenhuma prática como imutável. Mude e esteja pronto a mudar novamente. Não aceite verdade eterna. Experimente" (B. F. Skinner)

12.5.12

Punição - o que é?

Se você é leitor do blog há algum tempo, sabe que eu não sou a maior fã de treino com correções físicas ou verbais. Tenho vários motivos para isso. Pensando historicamente, o primeiro motivo que me levou a retirar as punições do treino com os meus cães foi o enorme insucesso que eu tive com técnicas que se baseavam em correções ou controle aversivo. O meu primeiro cão, o Pypo, não gostava de outros cães e tinha tendências a agressividade. Graças a minha ignorância na época e a muitas e muitas sessões recheadas de punições, as tendências deixaram de ser tendências e passaram a ser exibições incontroláveis de agressividade. Chegou ao ponto de ele ver uma sacola a 500 metros de distância, achar que era um cachorro e começar a "surtar". Não era bonito de se ver. Nem de viver.

Obviamente, não podemos julgar um método pela sua má aplicação, isso vale tanto para os treinos com punições quanto para os treinos com reforçamento positivo. E com toda a certeza eu fazia uma péssima aplicação das punições.

No entanto, esse foi só o primeiro motivo que me levou a parar com as correções no meu treino. Com o tempo, consegui formular diversas razões práticas de por que não devemos treinar nossos cães com tais ferramentas. Mas, primeiro, tenho que esclarecer: o que é punição?


Definir punição não é algo simples de se fazer, como foi para definir o reforço positivo, por exemplo. Isso porque o reforço é definido por seus efeitos, mas a punição possui efeitos tão variados e imprevisíveis que fica muito difícil criar uma definição prática. O psicólogo B. F. Skinner acabou por definir punição como adição de estímulos aversivos (adição: logo chamamos de punição positiva) ou retirada de um estímulo apetitivo ou "prazeroso" (retirada: logo chamamos de punição negativa). Mas e seus efeitos?

O efeito mais conhecido da punição são as respostas emocionais. Quando somos punidos sentimos medo, ansiedade e, com o tempo, raiva. Punições geram respostas emocionais desagradáveis para o punido. Só aqui já temos razão o bastante para não utilizarmos tais práticas no adestramento. O treino e a vida não deveriam ser experienciadas com medo pelos nossos cães.

Mas, claramente, não paramos por aqui. O outro efeito da punição é o chamado contracontrole. O contracontrole é o nome dado aos comportamentos que o punido emite para evitar a punição. O grande problema é que é muito difícil prever como o punido irá "contracontrolar".

Pensem na seguinte situação: temos um filhote que acabou de chegar ao seu novo lar. Em dado momento, o cãozinho faz xixi em cima do tapete e o seu dono vem e briga com ele, faz os "Shh-Shh", "Ei, não!" e dá uns empurrões e tapinhas no filhote. Aquela rotina de sempre. O que o dono ensinou para o filhote? Que ele não pode fazer xixi no tapete? Que ele não pode fazer xixi quando o dono está presente? Que ele deve fazer o xixi no jornal? A última é a única que ele com certeza não ensinou.

Existem dois prolemas nessa situação. O primeiro é bastante lógico. Quando punimos um cão, ou uma pessoa, não estamos ensinando o que o cão (ou pessoa) deve fazer e sim o que não deve fazer. Como o cão saberá o que fazer na próxima situação? Ele não saberá. Isso só contribuirá para respostas emocionais como ansiedade.

Como colocar coleira de pinos para
funcionar,  ou seja, para machucar
O segundo problema é que não podemos predizer como o cão irá contracontrolar e esses comportamentos de contracontrole podem ser bastante ineficientes para o treino. O exemplo do xixi é bem claro nesse aspecto. Se punimos o cão quando ele faz xixi, ele pode simplesmente esperar que não estejamos no cômodo para poder fazer xixi. Agora você tem um cão que mancha os tapetes e que você não pode corrigir.

Mas os comportamentos de contracontrole podem não ser tão simples ou fáceis de lidar. O Pypo, por exemplo, ficou mais agressivo, mais ansioso e mais medroso. Já a Dory sempre foi muito sensível a punições que para outros cães seriam bem leves ou imperceptíveis. A forma mais comum de contracontrole da Dory era, e ainda é, fugir do trabalho, se afastar do agente punidor ou da situação que causa desconforto e se mandar. Como ensinar por punições um cão que simplesmente foge? Sei que existem meios, mas eu temo só de pensar.

Sendo assim, cientificamente falando, não faz sentido treinar um cão através de punições se existem outras alternativas (e eu já mostrei em outros posts que essas alternativas existem).

Em um próximo post vou explicar porque misturar metodologias (treino com reforço positivo e com punição) ainda é um mau negócio e bem menos efetivo que treinar apenas com  reforço positivo.



Dica: quem quiser estudar mais sobre o assunto, procure o livro "Coerção e suas implicações" de Murray Sidman. Um clássico e que trata todos os aspectos do assunto.

8.5.12

Compreendendo a importância da variabilidade genética dentro de uma população

O blog do Cão Preto recebeu uma visita muito especial hoje! Com a nova empreitada em meio a assuntos de cinofilia e criação, eu conversei com o amigo Thiago Mendes, biólogo e criador de Schipps, para me ajudar a discutir esses assuntos por aqui. Hoje publicamos o primeiro texto do Thiago no Cão Preto. Aproveitem! O Thiago está só começando, rs.


Compreendendo a importância da variabilidade genética dentro de uma população



A maioria das pessoas quando pensam em genética se lembram do Aa, dos experimentos de Mendel com suas ervilhas, muitos pensam que genética é basicamente isto, para cada característica temos dois fatores sendo um dominante e um recessivo. Outros que tem uma visão mais biotecnológica pensam nas mutações, transgenias, identificação de genes; parece tudo mágico, simples e que vai solucionar todos os problemas. Bom, vamos desmistificar um pouco as coisas.




Primeiro, termos importantes:

Genótipo – características contidas nos genes, referente a um locus ou mais.
Fenótipo – expressão do genótipo com ou sem influência do meio ambiente, pode ser uma característica ou conjunto de características. O meio pode alterar o fenótipo, mas não pode alterar o genótipo. Ao observar o fenótipo observamos de forma indireta o genótipo.
Dominante – gene que sempre passa sua característica.
Recessivo – gene que não se expressa na presença de um dominante.
Codominante – gene que se expressa junto com um dominante.
Mutação – alteração na informação genética. Pode ser uma troca de nucleotídeo, uma deleção ou uma inserção de nucleotídeo. Raramente uma mutação leva a expressão de caractere já existente no grupo.
Clique para ampliar
Locus – local do gene em um cromossomo.
Alelos – tipos de genes para cada locus.


A variabilidade genética e sua importância

A grande maioria dos loci (plural para locus) não possuem apenas 2 alelos e sim muitos; o mais correto seria pensar em possíveis genes para um locus assim: A1, A2, A3, A4, ... a1, a2... . A relação destes genes pode ser de dominância, codominância, recessividade, interação, supressão e outras. O nome dado para um locus depende diretamente do estudo, pode ser qualquer letra, não existe uma regra, o único padrão é que a característica dominante vai ser com letra maiúscula e recessiva com letra minúscula.

A maioria dos mamíferos são diplóides (2n), isto é, possuem 2 conjuntos de cromossomos (com exceção dos sexuais X e Y), um conjunto veio da pai e o outro conjunto da mãe, logo possuem 2 de cada tipo de cromossomo (fita de DNA: um par de cada). São nos cromossomos que encontramos os locus, portanto para estudar uma característica temos que pensar pelo menos em 2 genes.

Pensando nisso, vamos analisar a importância da variabilidade para evitar a expressão de alterações relacionadas a genes recessivos. Considerando um locus com apenas 5 possíveis alelos teremos 15 possíveis genótipos (A1A1, A1A2, A1A3...), supondo que um alelo recessivo cause uma doença (a) a chance da expressão deste gene em uma população estável será muito pequena pois a chance de nascer um aa é baixa, 8,3%, seria necessário cruzar dois portadores do gene (A1a, A3a por exemplo) para que isto ocorresse e mesmo assim a probabilidade seria de 1/4. Para manter esta variabilidade neste locus é necessário manter o fluxo gênico dentro da população, para isso não é interessante repetir muitas vezes o mesmo cruzamento, muito menos cruzar indivíduos com grande proximidade de parentesco, estes cruzamentos levam a perda de alelos na população e com isto aumenta as chances de expressão de genes recessivos.

Perder alelos dominantes em uma população é fácil, eliminar um alelo recessivo, por outro lado, é muito difícil. Basta observar o gene para albinismo que é uma mutação muito antiga do ponto de vista evolutivo e que continua presente nas populações, mesmo quase sempre sendo selecionada negativamente.

É importante considerar a variabilidade porque ao se perder apenas dois alelos para o caso acima restarão apenas 6 genótipos possíveis e com isto a chance de expressão do gene recessivo aumentou em 300%, passou a ser de 25% na população. Temos que pensar nisso para vários loci e não só para um, existem várias doenças recessivas que em populações estáveis raramente se expressariam.

Uma pessoa que gosta de biotecnologia poderia dizer assim: “Bom, mas com o uso de um marcador por técnica fish não poderíamos detectar o gene causador da doença? Isto não resolveria o problema?” A resposta seria ‘sim’, ‘não’ e ‘não é tão simples assim’. Em primeiro lugar precisamos da sequência complementar a que se busca, para algumas doenças temos, para muitas outras não. Segundo problema é que a identificação não significa eliminação da característica. Eliminar de uma população um gene recessivo é muito difícil, praticamente impossível. Os portadores do gene que possuírem também um dominante junto não vão expressar a característica, os filhotes deste também podem não expressar, seria necessário fazer o teste em todos os indivíduos da população e eliminar da criação todos os portadores, isto é uma tarefa monumental e praticamente impossível.

Clique para ampliar

Pensem nisso em todas as possíveis doenças. Manter a variabilidade genética é a forma mais eficiente de controlar a expressão e de custo muito mais baixo. Temos que avaliar também que existem muitos genes supressores de expressão, a variabilidade genética permite a manutenção destes genes supressores, logo um indivíduo homozigoto de um gene causador de doença nem sempre vai ter a doença, pois o gene inibidor pode impedir a expressão da característica.

Existe um conceito em dinâmica de populações que é extinção genética, isto ocorre quando um grupo de seres vivos fica com um número tão restrito de variantes gênicas que tenderá a desaparecer. Para mamíferos o número mínimo de indivíduos está próximo a 250 variantes em meio natural e 50 em meio artificial tomando os cuidados para manutenção da variabilidade.

Um exemplo disso é o mico-leão-dourado. A espécie ficou com um número tão reduzido que se o homem não intervisse no fluxo gênico a espécie se tornaria extinta, mesmo que mais nenhum outro espécime fosse retirado do meio ambiente, pois os cruzamentos consanguíneos começaram a ser frequentes e variantes genéticas seriam perdidas pelos grupos levando a extinção genética e presencial futura. O homem interviu de forma direta nisso, migrando espécimes entre as áreas de preservação, fazendo alguns cruzamentos específicos em cativeiro e reintroduzindo ao meio natural. Atualmente a espécie está estável geneticamente.

Para quem quer uma fundamentação mais profunda e teórica sobre o assunto, busque um bom livro de genética aplicada a dinâmica de populações, tem tudo isso e muito mais.

E o que tem isso a ver com cães?

Pensem nisso ao se analisar qualquer criação e ao escolher um animal de estimação. Em cães o negócio está feio. Muitos criadores não tem a menor noção disso. Muitos acreditam que “homogeneizar” a criação com cruzamentos consanguíneos é o caminho correto a ser seguido, isso está levando as raças a perder a variabilidade e a ter “doenças típicas”. Algumas raças estão tão restritas geneticamente que logo mais poderão ser consideradas extintas geneticamente (se nada for feito), isto é um absurdo. Um bom cão de raça não tem “doenças típicas”, um bom cão de raça é saudável e a manutenção da variabilidade é o caminho para fazer isso. Usar os termos em inglês (inbreeding ou linebreeding) não muda o conceito e seus efeitos.

Bom, esses são apenas alguns pontos a serem avaliados em relação à importância da variabilidade genética, outro dia continuo...


Thiago Mendes
Biólogo e criador da raça Schipperke

Você sabe ler emoções caninas? - parte 2

Faz tempo que não conversamos sobre comportamento aqui no Cão Preto. Tsc tsc tsc! 

Por isso, hoje vou lançar o segundo desafio do "você sabe ler emoções caninas?". A estrela da vez é a minha baixinha preta, a Dory! O click é do Guilherme Trevisani.

Fiquei pensando se deveria dar a situação em que a foto foi tirada ou não. Decidi que não, só para aumentar o desafio! Mua-ha-ha. Tentem adivinhar a situação pelo que ela está mostrando, mas o mais importante mesmo é tentar identificar como ela está se sentindo.


Aprender a identificar as emoções que a Dory está exibindo nessa foto me permitiram mudar drasticamente todo o treino dela. Puãtz, acho que isso já foi dica demais.

Vamos lá, sua vez!

4.5.12

a beleza da vida


Para ligar a legenda, clique no botão CC no vídeo e
 selecione Português


Quando eu vejo esse vídeo, se apodera de mim um sentimento que eu não aprendi a descrever. Se isso não é lindo, eu não sei o quê é.

30.4.12

Mudanças pelo tempo - Bull Terrier

Uma imagem vale mais do que mil palavras. Deixo então o equivalente a 3000 palavras a vocês!

1898

1946

Hoje - Chamos Whispered Secret at Blazinbullys
Melhor da Raça na Crufts 2012

24.4.12

O padrão de raça e práticas de criação

Nos últimos tempos tenho dedicado um espaço considerável do blog para discutir um tópico importante na criação de cães: a conformação física. Hoje - antes de me arriscar em temas ainda mais polêmicos da cinofilia - vou discutir o papel da estrutura na seleção de animais, seus objetivos, pressupostos e efeitos colaterais.

No primeiro post da série eu coloquei brevemente como a estrutura muita vezes representa algo terrível e prejudicial para aqueles que se empenham em produzir um cão de trabalho. Não é difícil compreender o porque quando olhamos para a situação atual da cinofilia.


Uma labradora de trabalho vs. ClearCreek BonaVenture Windjammer,
campeã da raça na Westminster 2012
A seleção de cães para exposição se justifica e baseia no seguimento de um documento supremo, o Padrão da Raça. Esse tipo de documento descreve, de maneira deveras superficial, como deve ser o temperamento e a aparência do exemplar típico da raça. Sendo assim, teoricamente, a criação de cães show é voltada para criar cães que se adequem a esse padrão a fim de poderem executar melhor suas funções originais. Infelizmente, uma rápida olhada nas fotos das Labradores e dos Clumber Spaniels denuncia o pouco sucesso desse tipo de criação para seus objetivos iniciais. 


Sedgehurst Tempest, exemplar de trabalho vs. Chervood Snowsun,
exemplar que teve o título de Melhor da Raça negado no Crufts 2012

Toda a ideia de seguir um dito padrão na seleção de uma raça é um problema interessante e intrigante. Quais as justificativas para tais práticas? Ou ainda, que evidências sugerem que as características descritas permitem que o cão típico seja um melhor trabalhador? 

Possivelmente em resposta à algumas dessas questões, os padrões de raça são documentos bastante amplos na maneira como descrevem as características de dada raça. Isso, a meu ver, é um ponto bastante positivo.


Para exemplificar podemos olhar um pequeno excerto do padrão da raça Labrador Retriever:

         "POSTERIORES
                    Aparência geral: bem desenvolvidos; sem inclinação para a cauda.
                    Joelhos: bem angulados.
                    J
arretes: bem descidos. Jarretes de vaca são altamente indesejáveis."

Se analisarmos os dois cães da foto com esse mesmo padrão podemos notar que ambos os cães estão adequadamente dentro do padrão da raça no quesito "posteriores". Pelo meu ponto de vista, obviamente. Mas há de se pensar, o que são posteriores bem desenvolvidos? Eu não sei, assim como não sei qual o limite que define um joelho bem angulado. Fica claro, portanto, como esse documento deixa muito espaço para interpretação.

Como coloquei, isso não é necessariamente um ponto negativo, pelo contrário! Cães trabalhadores de qualidade podem vir em vários "pacotes". Mas então por que a criação de cães batalha tanto para criar uma homogeneidade tão extrema nas raças? Já vi diversas entrevistas em que criadores avaliavam a qualidade de um plantel conforme a homogeneidade dos animais. Se não me engano, as pistas de exposição do tipo "criação" são justamente isso.

Joelhos bem angulados? Hmm, acho que passou do ponto!
Uma possível razão para a busca por essa homogeneidade são as próprias exposições de beleza e a utopia do cão "ideal". Tentar produzir vários exemplares que se assemelhem tanto quanto possível aos principais campeões da raça aumenta a probabilidade desses animais se saírem bem nos ringues. Mas surge o questionamento: dentro desse padrão amplo e interpretativo quem decide quais características serão valorizados e quais serão punidas? E por quê?

Afinal de contas, ao analisar brevemente o padrão da raça Labrador e da raça Clumber Spaniel não consigo ver como os exemplares de trabalho não serviriam como exemplos típicos de suas respectivas raças. Para mim, os dois exemplares mais moderados são animais bem mais típicos que seus colegas de exposição.


Mas também, há de se questionar, por que a homogeneidade é um problema? Por que não podemos produzir todos os animais dentro do mais alto grau de qualidade possível (supondo que esse grau exista e seja objetivo)? O principal problema da busca pela homogeneidade são as práticas a que criadores recorrem para atingir esse objetivo. Estou me referindo ao inbreeding (também conhecido como retrocruzamento) que consiste em acasalar animais aparentados para "fixar" determinadas características desejáveis daquela linhagem nos filhotes.


O inbreeding reduz a variabilidade genética e acelera a "fixação" de uma dada característica na população, o que é extremamente vantajoso para um criador que esteja selecionando uma característica específica como, por exemplo, mais massa muscular, pelagem ou até características comportamentais como o eye power de alguns cães pastores. 


No entanto, através desse mesmo processo, também é possível selecionar doenças de fundo genético como a urolitíase que afeta a maioria dos dálmatas, a syringomyelia que afeta boa parte dos Cavaliers ou as várias doenças oculares que afetam a raça Collie (CEA, PRA, Colobomas e por aí vai). É óbvio que tais doenças não são selecionadas de propósito, mas representam alguns dos efeitos colaterais do inbreeding.


Isso sem contar os problemas inerentes a conformação "esperada" em cada raça. Só para citar alguns exemplos temos: o ectróprio dos Basset Hounds, os problemas de pele devido as dobras do Mastim Napolitano (2) ou Sharpei, os problemas dentários e respiratórios causados pela braquicefalia nos Pugs, a péssima movimentação dos Pastores Alemães ou, o rei supremo do absurdo cinófilo, o Bulldog Inglês.
Nova Scotia: raça que sofre com as
altíssimas taxas de inbreeding


Mas ainda fica pior. Pois é.


O inbreeding não está relacionado apenas com a aparição de doenças específicas que podem ser facilmente controladas com exames de dna (como é o caso da 'Collie Eye Anomaly'). A perda da variabilidade genética resulta no fenômeno conhecido como depressão endogâmica que pode causar queda da fertilidade, longevidade, ineficiência do sistema imunológico, aumento da frequência de filhotes natimortos ou deformados, etc, etc, etc


Agora, deixo um excerto de uma entrevista do criador de Mastim Napolitano Enrique Graziano para a Revista Cães&Cia na edição de fevereiro de 2011. Vamos brincar de ligar os pontos...


"Os filhotes têm estrutura física forte, mas são frágeis em termos imunológicos. Ficam doentes e morrem com facilidade. Em geral, por verminoses. É fácil que sejam contaminados por giárdia ou eiméria. Hoje, dou a primeira dose de vermífugo com 7 dias de vida. Já perdi muitos filhotes. Atualmente perco menos, mas ainda perco.[...] Só quem cria Mastino muito leve e, portanto, fora do padrão obtém a procriação mais fácil"


Na entrevista, Graziano acusa a consanguinidade como principal causa de problemas na raça, inclusive em relação aos problemas de saúde dos filhotes.

Mas, não se iludam, a consanguinidade não é um problema só do Mastino, ou só das raças citadas nesse post. A consanguinidade é um problema para todas as raças criadas dentro um sistema de registro fechado como da FCI.

15.4.12

Treino sem punições?

Faz algum tempo, eu traduzi um texto da canadense Susan Garrett e que foi publicado no site da Tudo de Cão. Se você não leu esse artigo, recomendo que o faça antes de ler essa postagem, ela ficará um pouco mais clara dessa forma. Mas também, a leitura não é obrigatória. :)

É possível treinar cães sem o uso de punições?

Treinar um cão sem broncas
pode ser fácil!
A adestradora Susan Garrett é famosa por treinar seus cães para agility sem o uso de correções físicas ou verbais. Susan já ganhou diversos títulos nacionais e internacionais com vários cães diferentes, lançou livros e dvds e impressiona pelo nível de precisão com que seus cães executam comportamentos (puxa-saco-ô-ô, mas sou mesmo!).

O grande conceito-chave de seu treinamento é que ela tem controle dos reforçadores que seus cães podem obter. Como assim? Tudo aquilo que os cães de Susan adoram eles poderão obter se exibirem os comportamentos que ela espera. Mas o grande segredo é que Susan não tem controle só dos brinquedos e petiscos. No, no, no! Ela controla outras atividades muito reforçadoras como nadar no lago, correr no jardim, brincar com outros cães e pessoas ou, até mesmo, poder fazer agility.

Para Susan, o maior motivo pelo qual as pessoas usam punições no treino é porque elas não controlam o acesso a todos os reforçadores e aí, o cão consegue se "auto-reforçar".  Exemplificando, o cão se "auto-reforça" quando não presta atenção ao tutor na pista de agility e tem a oportunidade de cheirar o local e/ou brincar com outros cães; ou quando puxa a guia para chegar mais rápido até outro cão. Como esse comportamento de não prestar atenção foi reforçado (pelos cheiros, por ex.), a probabilidade dele ocorrer no futuro só aumentou. Ou seja, o cão aprendeu a não prestar atenção!

Quando o tutor não consegue controlar o acesso a esses reforçadores (no caso, cheirar e interagir com outros cães), ele se vê obrigado a inserir a punição em seu treino para diminuir os comportamentos "inadequados" de seu cão.


Mas não é preciso corrigir fisicamente ou verbalmente um cão para obter um comportamento impecável. A seguir, deixo um vídeo que demonstra lindamente esse tipo de treinamento. Farei comentários após o vídeo. :)

 
Vocês repararam qual foi o reforçador que a tutora usou para treinar seu cão? O objetivo do exercício era ensinar o cão a fazer agility concentrado e se acalmar mesmo na presença de uma cadela no cio.

Para isso, qual o melhor reforçador a ser usado? Isso mesmo, a própria fêmea no cio! :)

Dois "detalhes" são essenciais no vídeo. Reparem que em nenhum momento o cão está fora da guia. Por que? Dessa forma, o tutora tem algum controle sobre ele e facilita com que o cão não cometa erros. Afinal, se o cão comete-los estará se auto-reforçando e só restará puni-lo para não se distrair com a fêmea. Dessa forma, o cão emite os comportamento esperados pela tutora e pode ser reforçado. Isso é um quesito muito importante! 

O outro "detalhe" é que mesmo usando a fêmea como reforçador, a tutora ainda usa o brinquedo. Por que isso? O cão tem de aprender a brincar ou receber comida em qualquer situação (sim, esses também são comportamentos treináveis!) para que seu treinamento seja mais fácil e para que ele não, digamos, "escolha" com o que quer treinar! É importante que o cão aprenda a usufruir dos reforçadores que lhe são oferecidos, caso contrário, controlar fica muito mais difícil. E novamente, teriam de voltar a punição para treiná-lo.

No final, vocês podem ver que o cão deita muito mais calmo do que no começo do vídeo e executa a zona da gangorra com perfeição. Provando que, afinal de contas, é possível treinar um cão sem punições! :)